Telma Lopes refaz Debret em folhas e sementes 

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Quando era criança, Telma Lopes brincava com folhas e sementes em quintais e terraços arborizados de São José de Ribamar. Na escola do Convento, onde estudou, conheceu as imagens que ilustravam livros de história, de autoria do pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que morou no Brasil entre 1817 a 1831, e passou a recriar personagens dessas imagens usando os materiais orgânicos de suas brincadeiras.

Hoje, depois de uma trajetória profissional que inclui anos de trabalho na Fábrica de Cenários da Rede Globo, no Rio de Janeiro, Telma Lopes retorna a São Luís, refaz seus sonhos de infância e apresenta na exposição Folhas do Tempo.

A exposição está na Galeria do Sesc, na Praça Deodoro, em São Luís, com um café da manhã. Fica aberta ao público até o dia 19 de outubro, das 9h às 17h (exceto sábados, domingos e feriados).

São colagens montadas e desenhadas que misturam 21 personagens populares dos quadros de Debret com pregoeiros e outros transeuntes das ruas maranhenses.

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Folhas 

As imagens criadas por Telma Lopes são construídas com materiais orgânicos reaproveitados. São, principalmente, sementes e as folhas, que selecionadas e separadas pelas cores, formas e texturas.

As cores remetem a lembranças de sítios e quintais de áreas rurais da Ilha de São Luís, onde Telma Lopes, e muitos adultos de hoje, viveram momentos felizes de sua infância moraram, passaram férias ou iam a passeio.

“Há uma memória desses espaços verdes, arborizados, com riachos e crianças brincando que vive em Telma, mesmo depois de anos que ela viveu no Rio de Janeiro”, afirma o artista visual Claudio Costa. Hoje, essas áreas estão sendo ocupadas por condomínios residências e centros comerciais e devem, praticamente, desaparecer nos próximos anos.

A cor das imagens, é sépia, como define a artista. A folha ao secar, perde a clorofila e adquire uma mistura de tonalidades variadas, com prevalência de gradações marrons, avermelhadas e amarelas.

Telma Lopes explica que as folhas, quando envelhecem, ficam frágeis e se transformam em estrume. Por meio de técnicas de colagem, adquirem textura parecida com a de madeira e são usadas à concepção da releitura de personagens captadas das pinturas de Debret.

A escolha dos tons é para fazer paleta de cores semelhantes às usadas por Debret. Algumas folhas são desidratadas e coladas à formação do desenho. As obras são dispostas como móbile em vidro e em caixas. Os quadros têm formato oval e retangular, de tamanhos 45 por 50 cm.

“Lembro que, nos meus sete, oito anos, dizia que meus desenhos eram melhores do que os de Debret”, recorda Telma Lopes, em tom de riso, entre amigos, durante um café da tarde, na sala de cozinha da casa dela, de frente ao quintal, no Beco do Silva, perto da Igreja da Sé, em São Luís, onde mora, atualmente, e recebe amigos, a maioria artista, ao lado de sua cadela, Loba, carioca e companheira da artista há 14 anos.

É nessa casa, em São Luís, que aprimora a releitura dos personagens de Debret, um trabalho que vem construindo há tempos. Essa exposição é apenas o início de uma trilha que Telma Lopes está construindo com cuidado e sem presa.

Nação Baia de São José

Telma Lopes nasceu no povoado Pedras, no município de Humberto de Campos. Assim como milhares de moradores de localizadas do litoral leste do Maranhão e regiões interligadas com a Baia de São José, como o Vale do Munim, Baixo Parnaíba e Lençóis Maranhenses, ela seguiu à cidade de São José de Ribamar, o entreposto de acesso de pessoas dessas regiões à Cidade de São Luís do Maranhão.

Morou em São José de Ribamar e em São Luís, onde atuou no Laborarte. Trilhou por trabalhos com foco na arte urbana, grafite e construção de cenários. No Rio de Janeiro, estudou na Associação Brasileira Bella Artes e trabalhou na Rede Globo. Retornou à capital maranhense em 2017.

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