Harmonia na Ponta d’Areia

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Até o início da década de 1990, a convivência entre as classes sociais na praia da Ponta d’Areia era harmoniosa.

Na praia do Olho d’Água, por sua vez, até a década de 1970, havia uma separação. A maior parte da praia era ocupada por pessoas de menor poder aquisitivo. A área mais próxima da barreira do Rio Jaguarema era mais frequentada por pessoas que tinham carro. Os endinheirados, como se falava.

Na Ponta d’Areia era diferente. O engenheiro e colecionador de fotos antigas José Renato Castro de Carvalho recorda que os tios-avós dele tinham uma casa de veraneio na Ponta d’Areia, antes da construção da Ponte São Francisco. A travessia era de barco. O imóvel ficava no espaço que o mercado imobiliário passou a denominar de Península. A casa foi ponto de encontro da família dele desde a década de 1950 até a de 1960.

Outras famílias também tinham casa de veraneio da Ponta d’Areia, nessa época, e conviviam tranquilamente com famílias de pescadores e demais moradores que residiam na área. “Os aniversários eram compartilhados entre famílias de todas as classes sociais”, recorda Renato de Carvalho. Ele lembra que o avô dele, funcionário do Banco do Brasil, José Ribamar Castro, trazia, de viagens que fazia ao Rio de Janeiro, presentes para amigos pescadores, residentes na Ponta d’Areia, como a camisa oficial do Fluminense, rara na cidade, na época.

Descendentes da família de José Renato de Carvalho já frequentavam o local na década de 1930, como mostra foto de familiares dele e crianças de famílias que moravam na Ponta d’Areia, no Forte Santo Antônio, publicada, com matéria, aqui no site Agenda Maranhão. Veja a publicação

Depois da Ponte São Francisco, em meados da década de 1970, até o início de 1990, a Ponta d’Areia continuou sendo um ponto de harmonia entre pessoas de poder aquisitivo e pensamentos diversos. A união acontecia nos jogos de futebol, partidas de frescobol, nas noitadas, nas conversas, no reggae etc. Só que o ponto de frequência foi deslocado para uma área mais perto do Forte São Marcos que, hoje, é conhecida como Ponta d’Areia. O espaço da Ponta d’Areia, agora denominado de Península, ficou mais isolado.

Foi o tempo do Bar Tóquio e de um jogo de futebol de praia tradicional (11 contra 11) em frente a esse bar, que reunia “craques de fim de semana” como Sérgio Cão, Sebá Albuquerque, Pardal, Raimundinho, Bonifácio, Eduardo Baima etc. Alguns viraram jogadores de futebol profissional.

Outra pelada, menor (de travinha), ao fim da tarde, era formada por Sérgio Habibe, que vinha do Olho d’Água, Pixixita etc. e os mais novos, na época, como Marco Portelada e Silvio Martins.

Nas conversas, a presença das irmãs Soraia e Sayonara, Totó etc. Ninguém perguntava de que bairro você era ou ficava perdendo tempo fazendo piadas comparativas entre classes sociais. As conversas envolviam música, livros e futebol, namoros etc. Era gente da Cohama, Codozinho, Lira/Belira, Jardim Renascença, Calhau, Anjo da Guarda, Centro. Tudo perfeito!

Talvez seja melhor voltar ao nome Ponta d’Areia e esquecer esse nome Península que está virando sinônimo de ambiente brega que remete a “peões ricos analfabetos”, defensores de “apartheid” e “privatização de uma área pública por poucos para poucos”. Já corrompeu!! É melhor deixar de fora.

Uma tentativa de mudar o nome de praia aconteceu com a Praia de São Marcos, que começou a ser chamada de Praia da Marcela, mas os moradores da época protestaram. O nome “extraterrestre” colou por um tempo, mas foi esquecido.

Os moradores da Ponta d’Areia (atual Península) e demais moradores da cidade querem paz e harmonia e a Ponta d’Areia, com um dos mais belos pôr do sol do Planeta, é o espaço adequado. O local não é para grandes shows. É para passeios com a família ou amigos, ao fim da tarde, ouvindo a “sinfonia” do mar, sem carro de som e com a brisa a acalmar mentes e corações. A pé, de carro, de moto, de ônibus, mas “na paz”.

Vamos voltar a falar de música, livros, futebol e deixar de lado piadinhas sem graça comparando bairros e pessoas. O tempo é de harmonizar ioga e futevôlei com o velho, bom e atual reggae rosts, depois deste tempo de pandemia e do vírus da intolerância e da burrice.

 

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