A história de uma música

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 Celso Borges

 

Márcio Vasconcelos

 

Durante vários anos, entre o final dos anos 1980 e a metade da década seguinte, a rádio Mirante FM colocou no ar um programa de reggae diário, às 17h, que fez muito sucesso, o Reggae Point, apresentado pelo cantor e compositor Fauzi Beydoun e depois por Toni Tavares. Uma das marcas do programa era a trilha de abertura, Sharpeville, da Reggae Philharmonic Orchestra (https://www.youtube.com/watch?v=wzHT7TzIUHc). A orquestra reuniu por pouco tempo vários músicos negros de Londres, que liderados por Michael Riley, da banda Steel Pulse, gravou dois discos. Sharpeville é uma homenagem a uma cidade sul africana massacrada pelo apartheid.

 

Alex Soares

 

Fauzi conta que teve contato com essa música depois que encomendou uma série de discos de reggae para uma loja londrina, a Trojan Records. Entre os lps estava o disco da orquestra filarmônica, que ele nem gostou tanto, com a exceção da faixa Sharpeville. O entusiasmo foi tão grande que ele acabou escolhendo o tema para a abertura do novo programa.

Eu adorava aquele instrumental e com o tempo ele passou a ter pra mim a cara de São Luís. Logo depois do início do Reggae Point, fui morar em São Paulo e, talvez por causa disso, criei uma relação afetiva com aquele tema. Por alguns anos, amadureci a ideia de colocar uma letra nele, mas isso só aconteceu em 2016. Encontrar versos para compor a primeira parte da música não foi difícil, mas a partir daí senti dificuldades em acompanhar metricamente os desdobramentos da melodia. Cheguei a pedir ajuda a Nosly, Alê Muniz e acho que a Zeca Baleiro também, mas a parceria não andou. Aceitei, então, o desafio, de criar uma segunda parte melódica para o tema e finalmente consegui.

 

André Lucap

 

O texto teve, claro, como núcleo principal a cidade, lembranças, vivências e atravessamentos afetivos experimentados por mim, principalmente na infância e adolescência. Queria fugir do lugar comum de como se fala de São Luís, lançar novos olhares poéticos sobre a cidade, sem perder o lirismo que ela me inspira, sua geografia, águas, torres de igrejas e Joões, Pedros, Josés, Ribamares, Marias, Marés.

 

Joedson Silva

 

Fiz uma gravação caseira acompanhado por Alê Muniz no violão e mandei para o cantor Claudio Lima que estava escolhendo repertório para o seu novo disco. Ele gostou e chamou o músico Eduardo Patrício para fazer a produção junto com o guitarrista João Simas. São Luís – variações líricas a partir de uma abertura de programa de reggae é a faixa que fecha o CD Rosa dos Ventos, terceiro da carreira de Claudio Lima, lançado em 2017 https://www.youtube.com/watch?v=0td5pR6jddc&list=OLAK5uy_kLVZW_Jew0LHVtHwstsJy20d5TScTw2w4&index=14

 

Edgar Rocha

 

Apesar de elogiada por quem ouvia o disco, a gente sabia que a canção ainda era desconhecida de muita gente, daí a ideia de aproveitar o aniversário da cidade para fazer um clipe (https://www.youtube.com/watch?v=W_t3Xynd0dg). E ninguém melhor que os fotógrafos para desnudar por meio de suas imagens a alma de São Luís. Obrigado de coração a Cláudio Lima pela voz, edição e montagem e aos artistas que cederam suas fotos: Alex Soares, André Lucap, Andressa Zupano, Claudio Lima, Edgar Rocha, Eraldo Coimbra, Ingrid Barros, Joedson Silva, Márcio Vasconcelos, Perla Berwanger e Vicente Martins.

 

Márcio Vasconcelos

 

São Luís: variações líricas a partir de uma abertura de programa de reggae

Celso Borges e Michael Riley

Em cada beco mouro

Em cada esquina um quintal

Um azul, uma estrela, um sinal

Sobrevoa a cidade

Pedras pontes monte de praias manhãs

Batucadas estalam no ar

Em terreiros distantes

E ainda se ouve de manhã o boi de maracanã

Cada azulejo morto é uma parede que cai

Uma alma perdida que trai

as cores da cidade

São Luís são Joões, são Pedros e Josés

Ribamares, Marias, marés

Vazando claridades

Uma andorinha faz verão na torre de São João

Cantaria Santaninha, Santana, Viração

Rua Grande do Sol, Afogados , aqui jaz

Rua da paz sem paz e o brado dos tupinambás

Praça da Alegria, Largo do Carmo, Catarina Mina

Quem comeu a língua do boi foi Catirina

Quem viu o barco que sumiu na Beira Mar

Ninguém viu: céu azul rio Anil (quem te pariu?)

Eu quero ver

Lamparinas penduradas nas janelas do Desterro

Eu quero ver

Cada vôo cada nuvem sobre a Upaon Açu

Cada canto Azul

Cada rua um rio será

A cidade nasceu do mar

A cidade é muito mais que o mar

A cidade são muitas vozes que se ouvem além do mar

Perto triste longe mas dentro de mim

A cidade suspensa está

Nos jardins de minh’alma

O desejo e o sol da infância me diz 

Que o céu da saudade está

dentro de São Luís

O sonho é muito mais real e pousa no Tirirical 

Perla Berwanger

 

Claudio Lima

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