Foto dos poetas Nauro Machado e Cesar Teixeira. Provavelmente na década de 1990; autor não identificado.
Dança Herética (Nauro Machado)
Sou ímpar:
sou par em mim,
quando em minha alma carrego deus
transportado num cofo de vísceras
pelas ladeiras da misericórdia.
Quem me restituirá ao impar que sou,
senão a morte que descascará minha pele
abandonando os braços inutilmente
à espera do sol?
Sou ímpar em mim e par em Deus.
Nauro Machado
Entre os maiores poetas da língua portuguesa. Dono de vasta obra, com mais de 35 títulos, tem poemas traduzidos para o francês, inglês e alemão. Os versos de Nauro Machado questionam a essência e a destinação do ser humano carregadas de angústia e agonia, com poucas comparações na lírica de nossa língua. O artista viveu praticamente toda a sua vida no Centro Histórico de São Luís. Morreu aos 80 anos, em 28 de novembro de 2015.
Flor do mal (Cesar Teixeira)
A flor do mal me quer
Para me desfolhar
O amor que tenho em mim
Do coração roubar
E receber do mundo
Moedas de cego
Que sempre me deram
Que eu sempre nego
E pego procurando
Pela flor do mal
Eu te amo bananeira
Lá no fundo do quintal
Eu quero a flor do mal
Para te perfumar
Porque só tenho em mim
Espinhos para dar
Depois morrer na sombra
Da caranguejeira
Deixando de herança
O mal da vida inteira
Bananeira não tem flor
Mas tem no chão
Bananas para os macacos
Que mataram lampião
A flor do mal me quer
E eu a quero também
Só pra saber o gosto
Que a morte tem
E quando os espíritos
Voltarem da guerra
Encherei os olhos
Com a mais suja terra
E ferrarei a mula
Rumo à Portugal
Eu e a minha bananeira
Duas bandeiras do mal
César Teixeira
Cantor, compositor, jornalista, poeta e artista visual, é autor de mais de 100 composições, entre sambas, baiões, valsas e boleros. Nasceu entre o Beco das Minas e o bairro da Madre Deus, em São Luís. Em 2004, depois de músicas gravadas por artistas como Alcione e Rita Benneditto, César Teixeira lançou o CD Shopping Brazil com 14 músicas, incluindo Flor do Mal, Bandeira de Aço e Boi da Lua, canções compostas nos anos 1970. Em 2019, saiu o seu segundo disco, Camapu, nome de uma fruta típica do Maranhão.
Veja entrevista de Cesar Teixeira para o jornalista Ed Wilson Araújo sobre o disco Camapu
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