São Marçal silencia, mas a trincheira está armada

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Texto e fotos: Benedito Lemos Jr. 

Neste ano de 2020, a trupiada em homenagem a São Marçal “silencia”, mas a trincheira sempre estará formada, empunhandoo maracá, as matracas, os pandeirões e o tambor onça para todos os anos “guarnicê o batalhão pesado e fazer terra firme tremer”, como sempre fez o Boi da Maioba em mais de 100 anos de tradição, história e magia.

A São Marçal seria um dos 72 discípulos de Cristo, que pegou de suas mãos o peixe e os pães, multiplicando e alimentando cinco mil homens no deserto, rogamos suas bênçãos para guarnicê novamente nossos batalhões na “festa” em sua homenagem – símbolo da resistência social, política e econômica, além de amor e defesa de suas tradições culturais e religiosas.

A Festa de São Marçal teria surgido da proibição aos grupos de bois, seus “brincantes”, de irem ao centro da cidade de São Luís, por representar “riscos” à manutenção da ordem pública e tranquilidade da “nobreza”, que habitava os belos e imponentes casarões coloniais da capital maranhense.

Mas, “os bois” não cederam à discriminação contra a cultura popular e fizeram do Bairro do João Paulo o seu palco de “manifestação” de sua cultura, suas tradições, sob a benção de São Marçal.

Há outras versões para o surgimento da Festa de São Marçal, que reúne todos os anos os “batalhões pesados” do Bumba Meu Boi do Maranhão, em especial, os de sotaque de matraca – um som divino que transporta brincantes, admiradores e seguidores para um mundo mágico de cores, som inebriante e dança de todos, com todos em êxtase.

As “apresentações” dos bois de matraca, que formam fileiras em homenagem a São Marçal, no Bairro do João Paulo, em São Luís, são como um grande “teatro encantado e de encantados”, divididos em atos, pois cada toada faz parte de um “todo”, um mundo de mágico de sons, poesias e danças e “cores”.

O amo “recita” uma poesia – toada – com o seu vozeirão. Todos escutam em silêncio, altamente concentrados, para logo em seguida o “amo” conclamar todos, para em voz, uníssono “poetizar” a toada e finalmente com o maracá empunhado e “convocar” todos para o “batalhão pesado”, com suas “armas”, as matracas, os pandeirões e o tambor onça celebrar mais um ato, mais uma toada, até “trilar” o seu apito, para poucos segundos de silêncio e começar tudo de novo, mais uma toada.

Mais uma vez o amo “canta” a sua poesia para que “se não existisse o Sol, como seria pra Terra se aquecer, e não existisse o mar, como seria pra natureza sobreviver, se não existisse o luar, o homem viveria na escuridão”, então vamos guarnecer o nosso batalhão de novo, como faz o Boi da Maioba.

É boi, rapaziada. SALVE SÃO MARÇAL!

 

 

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