O cruzamento da Rua São João com a Rua da Paz 

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Prédio da Faculdade de Farmácia e Odontologia

 

Autor: Mayron Borges (jornalista e presidente do Fórum Carajás)

O real não se revela de imediato. O filósofo e fotógrafo Joedson fotografava a Praça João Lisboa numa tarde de quarta-feira de agosto deste ano. Eles subiram uma escadaria que dava acesso a Praça João Lisboa. Joedson acabara de almoçar no Bar do Deco e planejava tomar um café no Chico Discos na Rua São João. O amigo jornalista avalizou a proposta do filósofo.

Joedson é formado em filosofia, pela Universidade Federal do Maranhão, mas só duas pessoas o aclamavam pelo qualificativo filosofo: os jornalistas Ed Wilson Araújo e José Reinado Martins.

Propuseram o Chico Discos para bebericarem um café ou mais de um e o trajeto a ser desenhado passaria pela Praça João Lisboa e pela Rua da Paz, onde desceriam a Rua São João. “Por que subir a Rua da Paz?”, analisou o jornalista que, costumeiramente, ou subia ou descia a Rua do Sol. “Que se há de fazer? Se o filósofo fotógrafo quer assim, que seja”.

O filósofo mirava e mantinha o foco de sua maquina fotográfica e captava fotos inusuais. A Rua da Paz, como boa parte do centro de São Luis, parece um despenhadeiro em que, a qualquer momento, os pedestres ou os motoristas podem cair ou sugerirem quedas em seus pensamentos mais absortos.

Joedson fotografou um papelão que protegia o para brisa de um carro. Fotografar um carro seria comum. Ele fotografou o papelão de um carro. Deve significar algo. O jornalista apontou para inscrições acima de um portão atrás da Igreja do Carmo que se encontrava fechado. O nome Rua da Paz e o numero da residência sobressaiam naquela parede.

A igreja do Carmo se abre tanto para o largo do Carmo como para a Rua da Paz.  As igrejas, em geral, têm duas entradas: a que recebe os fiéis para rezarem e a que recebe pessoas para se acomodarem em suas dependências.

Também se pensaria essas saídas do fundo como rotas de fuga em momentos de batida policial. No caminho, elucubrava-se.

O filósofo capturou a belíssima foto de três homens exercendo seus ofícios de carregadores numa Rua da Paz ensolarada. O olhar do filósofo fotógrafo se fixou no ato em si de carregar, na fisionomia dos carregadores ou no espaço sobrecarregado de transeuntes que os carregadores desafiavam para alcançarem seus objetivos?

O cruzamento da Rua Paz com a Rua São João –  pode se afirmar sem medo de errar – retrata a decadência em que se tornou os prédios históricos de São Luis. O prédio da antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia fechou para uma reforma que não se iniciou e as torres da igreja São João perderam as cores sem que ninguém saiba onde foram parar. O jornalista pediu ao filósofo fotógrafo que fotografasse as torres. Queria deixar marcada essa visão da decadência histórico cultural ludovicense em sua memória.

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