Autor: João Ubaldo de Moraes (jornalista e documentarista)
A pandemia da Covid-19 que estamos enfrentando, desde março do ano passado, continua fazendo vítimas e espalhando a tragédia na vida das famílias de todo planeta. Entre nós, maranhenses, não é diferente. Nesta última quarta-feira (10) fui surpreendido com a notícia da morte prematura de Chico Poeta (69 anos), ex-vereador na Câmara Municipal São Luís.
Minha esposa, Maria das Dores, me deu a notícia. Como está morrendo, infelizmente, tanta gente nos dias de hoje, não pensei muito e lhe disse apenas que o conhecia e que, em vida, tivemos um relacionamento social amigável e respeitoso.
Na condição de jornalista, sinceramente, não lembro de tê-lo entrevistado. Nem nos anos 1980, como apresentador do telejornal Bom Dia Maranhão (TV Difusora/Globo) e nem como repórter-político da TV Mirante (Globo), nos anos 1990, época em que o Chico Poeta exerceu o mandato de vereador.
Não que o ex-vereador Chico Poeta fosse um político qualquer. Um aventureiro ou oportunista e que não valesse notícia. Ao contrário, era um parlamentar atuante na defesa dos interesses comunitários e um orador vibrante. Muito admirado pelos amigos e eleitores.
De uma certa forma acompanhei a vida pública de Chico Poeta. Quando subia a tribuna da Câmara Municipal de São Luís, recordo, discursava e declamava versos de poetas da sua preferência e poemas de sua autoria. Era enfático, verdadeiro e emocionava facilmente a galeria. Suas interpretações beiravam uma apresentação de palco. Atraia facilmente a atenção das pessoas pelo tom, flexão de voz e excelente performance, quase teatral, de seus gestos e palavras.
Passado o primeiro impacto, na quinta-feira (11), sentado ao computador, comecei a refletir sobre a fugacidade da vida, diante de um vírus cruel e pouco conhecido, que estava levando qualquer um, quase indistintamente, às barras da morte física.
De repente me veio à cabeça o nome de Francisco dos Santos, que nos anos 1980, tinha realizado, em parceria com o cineasta maranhense João Mendes, o curta metragem Coco Amargo, o qual integrei a equipe como montador. Tratava-se de um filme de ficção sobre a vida dos maranhenses pobres do interior do estado, os quais sobreviviam e sobrevivem da coleta e quebra do coco de babaçu.
Rapidamente me transportei para os anos 1980. Busquei nos meus arquivos de cinema uma cópia do filme Coco Amargo… Que sorte! … Ele estava lá… Francisco dos Santos co-produtor, argumentista e roteirista e co-realizador do curta metragem Coco Amargo.
A dúvida, entretanto, permanecia. Precisava conectar Francisco dos Santos ao ex-vereador Chico Poeta? Será que se tratava da mesma pessoa? Baixou o jornalista e eu saí em campo. Falei com meu compadre Otacílio Souza, curta metragista, também compadre de João Mendes, em busca dos contatos.
Não falava com João Mendes há mais de 35 anos. O sangue começou a acelerar nas minhas veias. Consegui localizar seu celular. Liguei imediatamente. O telefone tocou uma… duas… três vezes e nada. Na quarta vez, atendeu. Era meu amigo João Mendes autor de mais de seis excelentes filmes nos anos 1970. Falei demoradamente com ele. Trocamos saudades, companheirismo e lembranças das velhas amizades. Finalmente… Não deu outra… O Mendes confirmou: Francisco dos Santos, batizado Antônio Francisco Ferreira dos Santos, era o mesmo Chico Poeta, ex-vereador de São Luís, morto na quarta-feira passada.
No filme, o ex-vereador Chico Poeta aparece no letreiro de abertura com o nome de Francisco dos Santos. Em 1980, ele ainda não tinha sido batizado por seus amigos, admiradores e eleitores, como o consagrado Chico Poeta, que conhecemos. Inclusive, agora sei, pai de Marcelo Poeta, também vereador da Câmara Municipal de São Luís.
Definitivamente, além de político, poeta, performer e compositor, o ex-vereador Chico Poeta, batizado Antônio Francisco Ferreira dos Santos, que assinava artisticamente Francisco dos Santos, era um homem múltiplo. Foi cineasta eventual e fez sua primeira e única incursão no cinema maranhense, como co-realizador, co-produtor, argumentista e roteirista do filme curta metragem de ficção, Coco Amargo (João Mendes) em 1980.
Missão cumprida e bem sucedida. Fica aqui a homenagem de todos nós, cineastas maranhenses, a Chico Poeta!
Que Deus o abençoe e o acolha na eternidade.
Filme Coco Amargo (João Mendes)
Link: www.youtube.com/watch?v=Skz_RNF6Xjw
Curta metragem integra o Ciclo de Cinema Super 8″ do Maranhão (1973 a 1986) e está incluído no Projeto de Resgate do Cinema Maranhense que eu realizo em parceria com o cineasta Joaquim Haickel (Museu da Memória Áudio Visual do Maranhão – Mavam).
Realizado no Povoado Acoque (município de Vitória do Mearim-MA), em 1980.
Prêmios em festivais nacionais
Troféu Melhor Filme – Júri Popular – IV Festival de Cinema Super 8 (atual Guarnicê de Cinema) – São Luís-MA, em 1981
Troféu Melhor Direção e Troféu Melhor Fotografia – Festival de Filme Super 8 – Teresina-PI, em 1981.
Ficha Técnica
Direção e Fotografia: João Mendes
Produção, Argumento e Roteiro: Francisco Santos
Produção: Otacílio Souza
Atriz: Deleidejane Costa
Montagem: João Ubaldo de Moraes
Sonorização: José Falcão e Carlito Silva
Narração: Raimundo Cunha
Texto: Padre Jocy Rodrigues
Letreiro: Edilton Lima.
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