Era uma casa portuguesa com certeza

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Namorados Manoel Ferreira e Rosalina Borges na Av. Beira-Mar em 1949

 

Esta foto foi tirada em 1949 pelo comerciante português Mario Araújo, que vivia em São Luís desde o início de 1940. Entre 1948 e 1951, ele fez dezenas de imagens da cidade, principalmente da região da Beira-Mar e das praças Benedito Leite e Gonçalves Dias, além do então balneário do Olho d’Água.

Mário Morais da Silva Araújo, nascido em Braga, Portugal, era um dos integrantes do Foto Clube do Maranhão, na época, e fotografava numa máquina laika alemã.

O casal da foto é Manoel Ferreira e Rosalina Borges. Ele, filho de Manuel Alves de Pinho Júnior e Maria Ferreira dos Reis; e ela, filha de Domingos da Silva Borges e Olívia da Costa, todos portugueses, com a exceção de Rosalina.

Mário Araújo era cinco anos mais velho do que Manoel Ferreira e ambos chegaram quase na mesma época em São Luís, o primeiro em março de 1940, e o segundo em janeiro de 1941. Naquela década moraram juntos em três repúblicas, na Rua 28 de julho (atual Rua do Giz); na Rua do Egito, em frente ao cine Roxy; e, por último, numa casa ao lado da Igreja de São Pantaleão.

A Beira-Mar era uma excelente opção de lazer da cidade, onde os casais costumavam passear nos finais de semana. Como viviam numa mesma república, não deve ter sido difícil para os amigos Mario e Manoel combinarem uma sessão de fotos em frente ao Rio Anil.

 

Era uma casa portuguesa com certeza

Os nomes de Manoel Ferreira e Rosalina Borges estão ligados diretamente ao Grupo Lusitana, uma rede de supermercados genuinamente maranhense, que teve uma enorme importância na vida econômica e social de São Luís durante quase 70 anos.

Tudo começou em 1921, quando o empresário português Domingos da Silva Borges fundou a Mercearia Lusitana, uma pequena loja que ocupava menos de 100m² na Rua Grande, centro de São Luís, na época uma cidade com cerca de 70 mil habitantes. O objetivo de Seu Domingos era criar no local um novo polo comercial que substituísse o tradicional comércio da Praia Grande.

Na década de 1950, mais precisamente em 1953, Manoel casou-se com Rosalina e pouco tempo depois assumiu o comando do negócio do sogro, que estava se mudando com a família para Belo Horizonte. Adotando práticas inovadoras, derrubou paradigmas ao começar a fazer entregas a domicílio dos pedidos efetuados no balcão e por telefone. A ideia vingou, ampliou a clientela da empresa e a Lusitana passou a ocupar posição privilegiada entre as maiores importadoras de gêneros alimentícios. 

 

Expansão 

 

Loja da Lusitana na área da Praça Praça Deodoro. Arquivo: Jornal O Imparcial

 

A concepção de colocar o cliente em destaque foi a alavanca que impulsionou a mercearia. Acompanhando atentamente as mudanças no segmento do varejo, a empresa implantou em 1961 o primeiro auto-serviço no estado. A novidade, conceito embrionário dos modernos supermercados, modificou o comportamento dos consumidores que se sentiram mais a vontade ao poderem escolher produtos e marcas da preferência.

Em 1966, a Lusitana inaugurou seu primeiro supermercado, na Rua de Santana, um local espaçoso e funcional que oferecia maior diversidade, variedade e conforto ao público.

Era o início de uma trajetória na consolidação da liderança do segmento de supermercados no Maranhão. Nas décadas de 1970 e 1980, a empresa não parou de crescer, criando novas lojas em diferentes bairros, acompanhando o crescimento da cidade.

Em 1974 instala o Depósito Central; em 1976 inaugura o Hipermercado Lusitana, a maior loja do grupo, que inova com a ampliação da oferta de produtos, como móveis e eletroeletrônicos; e em 1985 constroi o Centro Administrativo Lusitana, além de diversificar suas atividades ao entrar no ramo de material de construção com a criação da Galeria Lusitana.

O sucesso foi tão grande que, cinco anos depois, o grupo inaugurou o Lusitana Center, na Avenida dos Africanos, a maior loja do ramo na cidade, além do Lusitana Shopping, um imenso centro de compras, que incorporou em sua área outra novidade, a loja de departamentos. No auge de suas atividades, a rede de Supermercado Lusitana possuía 16 lojas e oferecia mais de 1300 empregos diretos e quase 4 mil indiretos. Nesse momento foi classificada entre as 500 maiores empresas brasileiras pela revista Exame e pelo jornal Gazeta Mercantil. Em 1999, faturou R$ 140 milhões e foi incluída entre as 10 maiores empresas do Maranhão, sendo destaque na listagem dos maiores contribuintes de impostos da região.

 

O fim de um ciclo

Em 2002, uma notícia surpreendeu todo mundo: a venda da rede de supermercados ao grupo Bom Preço. Naquele momento, o Grupo Lusitana era sólido, competitivo, rentável e de forte imagem junto à população. Fazia parte do cotidiano da cidade, de forma tão intensa, que a marca Lusitana se transformou em sinônimo de supermercado.  Em lugar de “fazer as compras da semana”, todos preferiam dizer “Hoje é dia de fazer Lusitana”.

O empresário Manoel Alves Ferreira morreu em agosto de 2009, aos 82 nos, cinco dias depois de sofrer uma queda, perto do condomínio onde morava, na praia da Ponta d’Areia. Sua companheira, Rosalina Borges Ferreira, morreu em maio de 2020, aos 86, vítima de Covid-19. O casal teve seis filhos, três homens e três mulheres.

Veja neste link uma parte da trajetória de empresário Manoel Alves

http://manoel.ferreira.nom.br/

 

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