No tempo do Bar Badauê

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Estas imagens são de murais, de autoria do artista visual Miguel Veiga, foi encomendado pelos empresários, na época, Wanda e Fernando para ambientar o Badauê, um bar de propriedade deles que funcionou, no início da década de 1980, na esquina da Rua dos Afogados com a Rua das Hortas (São Luís – Brasil),

 

A imagem traduz a lembrança deste lugar fantástico e nos remete a uma época importante de nossas vidas; um tempo com mudanças de mentalidades e avanços sociais e políticos quando a Ditadura Militar agonizava no Brasil.

 

Naquela época, ainda em meio a muitas discriminações rondando a cidade, esse bar foi um dos primeiros locais, da noite boêmia de São Luís, em que gays, héteros, maconheiros, maconheiras, caretas, picaretas, cristãos, ateus etc. conviviam de forma harmônica e respeitosa.

 

Tudo em um clima sem treta, de muita elegância, respeito, cordialidade e liberdade.

 

Todos confraternizavam e se divertiam muito ao som das grandes novidades da MPB, como Djavan e a turma mineira do Clube da Esquina; o rock inglês do The Smiths e o U2 de antes do The Joshua Tree. Tudo como se fossem uma única tribo: a dos “humanos”!

 

 

Nas conversas, nas mesas ou no balcão, a leitura do livro Cem Anos de Solidão, do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez; ou a estreia de alguma peça no teatro Arthur Azevedo, como Aves de Arribação, do teatrólogo maranhense Aldo Leite.

 

O Badauê era point para quem saía de um show de Geraldo Azevedo, no Espaço Cultural, e estava disposto a seguir na balada noite a dentro. São Luís era pacata, se comparada a atual.

 

Tempo em que alguns jovens empregados da recém chegada Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) começaram a circular em São Luís. Alguns, assumidamente gays e lésbicas, com ou sem pinta, mas, sobretudo, trabalhadores fazendo prevalecer seu jeito de ser em uma cidade que ainda guardava resquícios de um tempo em que se ainda havia que dava retreta em gays nas esquinas e mercados da cidade.

 

Esses jovens da Vale se uniam com a juventude da cidade, em parte estudantes da UFMA e UEMA (não havia universidade particular na cidade) no Badauê, o templo de todas as tribos.

 

Alguns e algumas vestiam calça jeans de grife com camisa do artesanato maranhense e iam ao Badauê fazer uma prévia antes de algum programa como um show, espetáculo… Ir a uma exposição de um novíssimo talento das artes visuais que despontava, chamado Cláudio Costa. Ou para combinar uma partida de frescobol, de futebol de travinha na descoladíssima Ponta d’Areia, praia vitrine das garotas de biquíni de crochê, garotos de tanga, gente embalada pelo som dos reggaes roots da época!

 

Era uma forma de ser que dizia não ao conservadorismo e censuras dos tempos da Ditadura Militar na época já agonizante.

 

Aliás, a turma da camiseta com a foto de Che Guevara também ia ao Badauê, mas a galera mais descolada, mais feminina, sem o rigor do só pensar nas lutas de classe, reuniões sindicais e assembleias de DCE.

 

As meninas quebravam tabus como noivado, virgindade e casamentos com véu e grinalda. Conquistavam a liberdade para escolherem seus parceiros ou parceiras. Várias uniões estáveis, realizadas no clima Badauê, duram até hoje. Os filhos e filhas desses casais, agora adultos, só conheceram esse tempo do ouvir falar.

 

Lembrando o Badauê e pensando nos tempos atuais

 

Aqui pontuado um tempo passado e efêmero para tentar colocar um pouco de azeite nesta era atual, gerenciada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, para não perdermos, nas brumas de outros tempos, convivências sociais abertas ao diálogo e respeito às diferenças já conquistadas em tempos pretéritos.

 

Visão de Miguel Veiga

Durante a edição desta portagem, o artista visual Miguel Veiga enviou alguns áudios. Aqui um desses depoimentos.

 

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