Olho d’Água não é uma praia da Flórida

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Circulou, neste mês, nas redes sociais, uma fotografia antiga de uma praia, com algumas carruagens e a legenda: “Praia do Olho d’Água, São Luís-MA 1895”.

A fotografia é, na verdade, uma imagem de Daytona Beach, uma famosa praia da Flórida, em 1904.

Daytona Beach, hoje, é uma cidade, distante 1 hora de Orlando, prestigiada por turistas de vários países. É famosa pelos seus museus e pelo circuito de automobilismo.

O acesso a foto pode ser pelo Pinterest, que é uma rede social de compartilhamento de imagens, de propriedade da Cold Brew Labs.

https://br.pinterest.com/pin/385761524316370975/

Ainda não temos o acervo de origem e o autor da fotografia.

No espaço virtual Pinterest há, também, outras fotos de pessoas ‘bem alinhadas’ em praias, no início do século XX. Algumas estão disponibilizadas nesta postagem.

 

Não é o Olho d’Água, rapaz!  

Na fotografia há várias carruagens e pessoas com vestes elegantes. Tem dois caras com bicicletas, em um canto da imagem, detalhe que chamou a atenção nas redes sociais.

Montagens que usam uma imagem real com informações erradas na legenda, à primeira vista, podem enganar. Por isso, às pressas, ‘de supetão’, são repassadas. Neste caso viralizou. Recebi várias vezes.

Com auxílio do historiador Antônio Guimarães, do fotógrafo Eduardo Cordeiro e do poeta e  jornalista Celso Borges, entre outros, o site Agenda Maranhão verificou que, historicamente, não poderia ser o Olho d’Água.

Como essas carruagens chegariam ao Olho d’Água do fim do século XIX? Poderia ter uma estrada ‘carroçal’ ligando a praia ao povoamento do Anil que era ligado a São Luís pelo Caminho Grande.

Mas, certamente, fazer esse trajeto como uma carruagem seria inviável pois abriria possibilidades de danificar um equipamento que era caro, na época.

Carruagens, na São Luís da passagem do século XIX para o século XX, provavelmente, circulavam somente na área urbana. Seria oneroso usar um veículo desse até mesmo no Caminho Grande em direção ao Anil.

Do Anil, importante povoamento de São Luís, saíam os caminhos para São José de Ribamar, Maioba e sítios em áreas como o do Angelim.

E as várias pessoas bem vestidas que aparecem na fotografia, quando a maré enchesse, para onde iriam?

No Olho d’Água da época deveria tem, somente, algumas casas de palhoça habitadas por pescadores.

O jornalista Celso Borges, que tem ligações afetivas e memoriais com Olho d’Agua, em suas pesquisas identificou que, até o começo da década de 1940, a classe média e a elite maranhense não tinham casas no então balneário do Olho d’Água.

Somente em 1945, informa Celso Borges, o prefeito de São Luís, Tancredo de Matos, colocou à venda, entre maio e outubro, lotes naquela localidade. Dos onze vendidos, os comerciantes portugueses Antonio da Silva Borges (avô do poeta Celso Borges) e Antonio Gaspar Marques (pai do filólogo Joaquim Campelo Marques), adquiriram quatro lotes, dois cada.

Mais próximo da praia, ao lado do Cabo Submarino da Western, cinco outros amigos de seu Borges também compraram lotes e construíram suas casas na década de 1940: Francisco Aguiar, Saturnino Belo (futuro governador do Maranhão), José Couto, Chamys Aboud (pai de César e Eduardo Aboud) e o dentista José Montenegro Guimarães. Até naquele momento, as únicas moradias do Olho d’Água pertenciam a pescadores e pessoas mais simples.

Enfim, o Olho d’Agua nunca foi Daytona Beach.

 

Praias nos EUA e Austrália no início do século XX

 

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