Gelo na fotografia de Pierre Verger

Publicado em:

 

O gelo foi novidade e atração em regiões tropicais e equatoriais nos séculos XIX e início do XX. De atração virou necessidade passando a ser comercializado.

A referência literária mais representativa do gelo como atração está no início da obra literária Cem Anos de Solidão, do escritor colombiano, Prêmio Nobel Literatura, Gabriel García Márquez:

“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de pau a pique e telhados de sapê, construídas na beira de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las era preciso apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de apitos e tímbalos, mostrava as novas invenções”.

Entre as várias imagens que Pierre Verger captou, quando esteve no Maranhão, em 1948, estão fotografias de pessoas carregando gelo no porto de São Luís.

Antropólogo, historiador e fotógrafo, Pierre Verger foi um dos primeiros a usar a fotografia para captar imagens do cotidiano maranhense como movimento nos portos, vida nas ruas e na Fonte do Ribeirão, religiosidade etc.

Pierre Verger usou mais a fotografia como feramenta em pesquisas científicas no campo da antropologia. Mas captou, também, momentos aleatórios que considerava relevantes. Talvez seja o caso das imagens de transporte de gelo na área portuária de São Luís.

Imaginem gelo sendo transportado no calor equatorial de São Luís de meados do século XX.

Os trabalhadores, sem qualquer equipamento de segurança, carregavam o gelo com as mãos.

Quem produzia esse gelo? Como era o transporte? Para onde ia nas embarcações? Quais os usos? Não localizei pesquisas sobre o uso do gelo no Maranhão.

 

 

Gelo no Brasil e mundo

Há informações sobre o uso de gelo, no mundo e no Brasil, como produto de consumo em regiões mais quentes que foram disponibilizadas pelo pesquisador João Cutrim.

https://medium.com/@joocutrim/gelo-uma-hist%C3%B3ria-de-inova%C3%A7%C3%A3o-486f4f6f6a2d

Ele descreve a comercialização do gelo nos Estados Unidos, no século XIX. O empresário destaque nesse setor, na época, foi Frederic Tudor que ficou conhecido como Rei do Gelo.

No Brasil, o primeiro carregamento de gelo natural veio em 1834 quando um barco, de propriedade de Frederic Tudor, descarregou gelo e maçãs Baldwin no Rio de Janeiro.

Na virada do século XX já existiam dez fábricas de gelo no Brasil. E em 1923, as fábricas de gelo se haviam multiplicado por todo o país: três fábricas operam no Pará, duas em Manaus, três em Recife, três na Bahia, sete no Rio de Janeiro, seis em São Paulo e várias no sul do Brasil.

Catálogo

As imagens captadas por Pierre Verger fazem parte do catálogo “O Maranhão por Pierre Verger”, lançado, este ano, pelo Centro Cultural da Vale.

O catálogo, com 80 fotografias, ainda não foi impresso. A versão digital da exposição está disponível no site da instituição (www.ccv-ma.org.br) desde 16 de março.

O trabalho é resultado de pesquisa da historiadora Paula Porta, que investigou 516 fotografias produzidas por Verger no Maranhão, pertencentes à Fundação Pierre Verger, sediada em Salvador e responsável pela guarda do acervo de Pierre Verger, de mais de 62 mil negativos, além de documentos e biblioteca.

O francês Pierre Verger chegou ao Maranhão dois anos após ter estabelecido residência no Brasil, em um momento em que já havia se consolidado como fotógrafo, colaborador de diversos jornais e revistas.

As fotografias selecionadas para a exposição são pouco conhecidas. De todo o material produzido na viagem, apenas 20 imagens chegaram a ser publicadas ou foram expostas.

Copyright © AGENDA MARANHÃO - Desenvolvido por TodayHost