O engenheiro civil Luiz Phelipe Andrès postou, em sua página, no Instagram, no dia 9 de outubro deste ano, o artigo “Memórias do Projeto Embarcações do Maranhão” quando prestou homenagem ao Mestre Pedro Alcântara, carpinteiro naval do Portinho, em São Luís (litoral norte do Brasil).
No artigo, reeditado aqui no site Agenda Maranhão, Luiz Phelipe Andrès rememora a célebre frase do Mestre Pedro de Alcântara: “Nós fazemos o barco, assim, todo torto, para ficar direito na água”.
A imagem é uma pintura que apresenta Pedro de Alcântara. O autor da obra é Luiz Phelipe Andrès.
A arte de produção de embarcações artesanais maranhenses é um saber repassado de pais para filhos. Como está ameaçado de desaparecer, Luiz Phelipe Andrès fez o livro “Embarcações do Maranhão: recuperação das técnicas construtivas tradicionais populares”. A edição, de 1996, está esgotada. O objetivo ajudar a preservar a memória da construção em embarcações no Maranhão.
Luiz Phelipe Andrès coordenou a equipe responsável pela revitalização da área da Praia Grande/Portinho por meio de projetos como o Reviver.
Foi um dos responsáveis por São Luís ser declarada, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) “Patrimônio Cultural Mundial”.
Artigo
Memórias do Projeto Embarcações do Maranhão.
Texto e pintura ilustrativa de autoria de Luiz Phelipe Andrès
Este retrato é uma homenagem ao Mestre Pedro Alcântara, carpinteiro naval do Portinho, Centro Histórico de São Luís.
Um dia, nos idos de 1986, quando a equipe de pesquisa do projeto Embarcações do Maranhão fazia as primeiras tentativas de obter os planos de linha de uma canoa costeira, tentei me explicar ao Mestre Pedro Alcântara pelas repetidas tentativas e grande dificuldade de realizar as medidas daquela embarcação magnífica que ele próprio havia construído de forma artesanal.
Segundo nossas mal costuradas justificativas, seria talvez o fato de que a mesma estava muito adernada na areia e fora do prumo, mas certamente, dizia eu, pela ausência de linhas retas, sendo a embarcação encurvada em todas as direções e aparentemente sem planos regulares que servissem de base para o nosso traçado.
Mestre Pedro Alcântara, então, me esclareceu com serenidade e sabedoria: “Nós fazemos o barco assim todo torto pra ficar direito na água”.
Anotei na hora e esta frase passou a ser a epígrafe do nosso projeto e depois do livro “Embarcações do Maranhão- Recuperação das técnicas construtivas tradicionais populares” que publicamos em 1998, sob os auspícios da UNESCO.
A vida dura de carpinteiro naval logo abreviou a existência do nosso Mestre Pedro Alcântara, que faleceu em 1988, mas ele ficou eternizado nessa frase magistral que resume em linguagem simples e carregada de saber popular, o que é de fato a complexidade do projeto naval de uma embarcação artesanal.
OBS1: Não faz muito tempo, uma produtora de vídeos do estado de Santa Catarina, a SetCom, por iniciativa do premiado cineasta Bigh Villas Boas, percorreu, de norte a sul, o litoral brasileiro realizando uma longa série de dez documentários, registrando e defendendo a importância e o papel social e econômico das embarcações artesanais.
Logo ao chegarem na etapa do litoral maranhense e tomarem conhecimento da frase do mestre Pedro Alcântara no livro “Embarcações do Maranhão”, mudaram o nome de batismo de toda a série que passou a se chamar: “Torto pra ficar Direito”.
OBS2: Em 2005, a revista Náutica, maior publicação do gênero em nosso país, elegeu os “20 barcos mais bonitos do Brasil”, entre os quais estava a canoa costeira IRIS de autoria do Mestre Pedro Alcântara.
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