Mistério e dor

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Texto autoral da Jornalista maranhense radicada no Rio de Janeiro, Maria do Socorro Branco, enviado ao site no dia seguinte a morte de Luiz Phelipe Andrès. Autor da fotos: José Reinaldo Martins

 

Morreu Luiz Phelipe Andrès, acabei de saber. Há menos de duas horas estava relendo seu livro sobre a reabilitação do Centro Histórico, publicado em 2012.

Tentava me distrair da notícia dolorosa de uma amiga muito querida que tinha descoberto metástase no câncer que estava tratando. Parece ser uma das constantes da meia idade: a perda ou a doença grave em pessoas que admiramos ou amamos.

Tive um ou dois contatos com Phelipe quando cursava Comunicação Social na UFMA, no início da década de 1980, e o projeto de recuperação da Praia Grande dava seus primeiros e encantadores passos. Desde então, acompanho, de longe, sua carreira e tenho notícias dele por amigos comuns.

A última vez que o vi, pessoalmente, ainda não tinha se tornado maranhense. Era quase um recém-chegado, estava muito envolvido com o projeto de recuperação da Praia Grande e arredores, mas abria espaço na agenda para receber, com paciência, os estudantes.

Em pouco tempo, o jovem, bonito, inteligente e gentil se tornaria o par perfeito para a nossa Ilha, que o acolheu em sua história e o seduziu com suas belezas e mistérios, em um casamento que durou mais de quatro décadas.

 

 

Além de coordenador do projeto de reabilitação do centro histórico e um dos responsáveis pelo reconhecimento de São Luís como Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco, ele esteve envolvido com outras iniciativas importantes, como o Estaleiro Escola Sítio do Tamancão, e tornou-se membro da Academia Maranhense de Letras.

Trabalhou com vários governos, fez amigos e ganhou o respeito pela competência e comprometimento com a cidade.

Como escreveu meu ex-colega da UFMA, Joaquim Haickel, esta perda vale uma blasfêmia: Deus, por que os maus não vão primeiro? Por que, em tempo de lutos infinitos e ódios extremos, tira-nos uma pessoa boa e abnegada, como Andrés? Por que tiras, com a doença, o medo e a debilidade física, o brilho e a esperança dos meus amigos mais alegres, acolhedores e solares? Sei que Tu tens os Teus mistérios. Mas eu, eu só tenho a minha dor.

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