Um presidente do Brasil negro em São Luís

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Fotografia da embarcação Iris com o político fluminense Nilo Peçanha (1867-1924) chegando em São Luís em 1921.

No verso da fotografia está escrito: “São Luis do Maranhão, vendo-se o palácio do governo”. A imagem integra o acervo Brasiliana Fotográfica, da Biblioteca Nacional. O autor ainda é desconhecido.

A fotografia analógica (de papel em preto e branco) ficou meio amarelada por causa do tempo. O site Agenda Maranhão disponibiliza a fotografia em sua forma “amarelada pelo tempo” e, também, totalmente em preto e branco.

Em São Luís, Nilo Peçanha foi recepcionado pelo político Tarquínio Lopes (1885-1945) durante a campanha Reação Republicana.

Apesar de haver controvérsias em relação a sua identidade racial, Nilo Peçanha é considerado o primeiro e único presidente negro da história do Brasil.

Nasceu em Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro. Durante sua juventude, a elite social de sua cidade chamava ele de “o mestiço de Morro do Coco”.

O casamento com a aristocrata de Campos dos Goytacazes, Ana de Castro Belisário Soares de Sousa, foi um escândalo, pois a noiva teve que fugir de casa para se casar com um pobre e mulato, embora político promissor.

Chegou à presidência da República do Brasil após o falecimento de Afonso Pena, em 14 de junho de 1909. Governou até 15 de novembro de 1910.

Apesar de seu governo ter durado somente um ano, durante seu mandato, Nilo Peçanha criou o Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI, antecessor da Funai), e inaugurou a primeira escola de ensino técnico no Brasil.

Frequentemente foi ridicularizado na imprensa da época em charges e anedotas que se referiam à cor da sua pele.

O diplomata e historiador Alberto da Costa e Silva afirma que Nilo Peçanha foi um dos quatro presidentes brasileiros que esconderam os seus ancestrais africanos. Os outros são Campos Sales, Rodrigues Alves e Washington Luís. Fernando Henrique Cardoso, apesar de se considerar da etnia branca, confirmou ter uma escrava entre seus ancestrais.

Alguns pesquisadores afirmam que as fotografias presidenciais de Nilo Peçanha eram retocadas para branquear sua pele escura.

O ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras, Abdias Nascimento, afirma que, apesar de sua tez escura, Nilo Peçanha escondeu suas origens africanas e que seus descendentes e família sempre negaram que ele fosse mulato.

Nilo Peçanha

Nilo Peçanha iniciou a carreira política ao ser eleito para a Assembleia Constituinte em 1890. Participou das campanhas abolicionista e republicana

Em 1903 foi eleito sucessivamente senador e presidente do estado do Rio de Janeiro, permanecendo no cargo até 1906 quando foi eleito vice-presidente de Afonso Pena.

Ainda em 1906, como presidente do estado do Rio de Janeiro, assinou, em 26 de fevereiro, o Convênio de Taubaté.

Quatro dias após o Convênio de Taubaté, em 1 de março de 1906, foi eleito vice-presidente da república, com 272.529 votos contra apenas 618 votos dados a Alfredo Varela.

Reação Republicana

A Reação Republicana foi uma coligação política formada por partidos regionais para apoiar a candidatura da chapa formada pelos candidatos à presidência e à vice-presidência, Nilo Peçanha e o baiano J.J. Seabra (1855 – 1942) respectivamente. Começou em 24 de junho de 1921.

A historiadora Silvia Pinho, do Museu da República, explica que a Reação Republicana foi uma campanha política em torno da sucessão presidencial, no Brasil, entre 1921 e 1922. Se opunha ao domínio de São Paulo e Minas Gerais dentro da estrutura da Velha República conhecida como Política do Café com Leite.

A Reação Republicana tinha a frente os estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul.

A plataforma da Reação defendeu maior equilíbrio federativo, solução da crise financeira, diversificação agrícola, expansão da educação pública, incentivo ao desenvolvimento econômico e regeneração dos costumes políticos.

Nas eleições de 1º de março de 1922, a chapa Reação Republicana foi derrota pelo mineiro Artur Bernardes (1875 – 1955) e pelo maranhense Urbano Santos (1859 – 1922), que morreu antes de tomar posse como vice-presidente.

Nilo Peçanha morreria pouco depois, em 1924.

Em 1930, ocorreu uma nova crise política no Brasil, mais forte e ampla. Reuniu as oligarquias estaduais dissidentes, militares e setores urbanos, além de outros grupos insatisfeitos com o regime da Velha República. Foi chamada de Revolução de 1930.

A bordo do Íris

A bordo do Íris – navio fretado especialmente para a campanha da Reação Republicana – , Nilo Peçanha visitou estados do norte e nordeste, fazendo comícios em praças e teatros, percorrendo as ruas, articulando alianças e conversando com as pessoas em busca de apoio.

Foi ao Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Distrito Federal.

Enquanto isso, o candidato a vice, J. J. Seabra, visitava estados do sul.

Tarquínio Lopes

De acordo com o bibliotecário da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Roberto Sousa Carvalho (doutor em Estudos Portugueses, especialidade em História do Livro e Crítica Textual), Tarquinio Lopes Filho (1885-1945), que recepcionou Nilo Peçanha, foi presidente da Junta Governativa do Maranhão (golpe de 26 de abril de 1922). Era filho de Tarquinio Brasileiro Lopes que governou interinamente o Maranhão

Tarquínio Lopes Filho criou o jornal Folha do Povo para escrever temas sociais que defendia.

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