Autor da Ilustração: Manoel de Barrros
O poeta e ilustrador Manoelde Barros foi um ser das regiões do Pantanal Matogrossense.
Nascido em Cuiabá, mas vivente das cidade de Campo Grande e Corumbá.
Padre Antonio Vieira
E teve aproximações com leituras dos sermões do Padre Antônio Vieira, um ser de outros mares, de quem falou:
“A frase, para ele [Padre Antonio Vieira], era mais importante que a verdade, mais importante que a sua própria fé. O que importava era a estética, o alcance plástico. Foi quando percebi que o poeta não tem compromisso com a verdade, mas com a verossimilhança”.
Fotógrafo
E o fotógrafo descrito por Manoel de Barros não busca só registrar ou eternizar o possível de ser captado por uma máquina fotográfica ou celular.
Transcende o possível.
O fotógrafo (Poema do livro Ensaios fotográficos)
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei.
Eu conto: Madrugada minha aldeia estava morta
não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era o carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski — seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
O Mundo Pequeno
Mas Manoel de Barros tinha a sua verdade vivida, real, que era o mundo nas proximidades do Pantanal Matogrossense.
O seu infinito Mundo Pequeno foi o do pequeno, a criança que sempre viveu na mata, entre rios, pássaros, pântanos e insetos.
Mundo Pequeno (Do livro: “O livro das ignorãças”)
O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas.
Seu olho exagera o azul.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos.
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