Atins: o paraíso seria aqui

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Por Eduardo Júlio
Jornalista

 

Há três áreas distintas na praia do povoado de Atins, no município de Barreirinhas (Brasil), região do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. O lado esquerdo de quem olha em direção ao mar é ocupadao por barracas de nativos: pescadores e pequenos empreendedores. São estabelecimentos simples, destinados a quem busca sossego ou somente a bela vista da enseada (um dos lugares mais aprazíveis dos Lençóis Maranhenses) para suavizar a existência. Como já dizia Dorival Caymmi: “o importante na vida é saber apreciar a paisagem”.

 

A área central da praia é formada pelas barracas e escolas de kitesurf, obviamente direcionadas para os amantes de todas as idades deste esporte cujo principal suporte é o vento. A vila é um dos principais pontos do Brasil para a prática do kite, atraindo principalmente jovens estrangeiros ou de outros estados do país que lançam suas velas coloridas no horizonte, tornando a paisagem ainda mais bonita.

 

Os meses de julho, agosto e setembro, quando os ventos se tornam intensos no litoral do Maranhão, são os mais concorridos. Mas a atividade segue até dezembro. A descoberta do local para a prática do kitesurf talvez tenha sido a principal atividade propulsora do turismo em Atins, transformando rapidamente a paisagem desta antiga vila de pescadores, antes simplória e isolada, visitada apenas por turistas mais aventureiros.

 

O terceiro ponto da praia, mais à direita, contrário ao pôr do sol, parece ser destinado a todos os perfis e possui um dos bares e restaurantes mais sofisticados da orla, cujo público são os abonados de São Luís e de outras partes do estado e do país que, nos finais de semana e feriados, ocupam parte da praia, com enormes lanchas e motos aquáticas, causando poluição sonora, ambiental e visual. Nessa área, não havia ocupação há seis anos. Era um espaço completamente limpo.

 

A parte interna do povoado também já está bastante transformada em relação ao final da década passada. A especulação imobiliária é uma realidade avassaladora. A vila se tornou um canteiro de obras. Mansões ou grandes pousadas dividem espaço com estabelecimentos mais modestos. As ruas são tortuosas e não obedecem a qualquer padrão.

 

Poucos pescadores restam, dizem. Quem não se adaptou às atividades do turismo, já saiu ou está prestes a sair. Aparentemente, os empresários que se estabeleciam ali, anteriormente, se preocupavam em manter a harmonia arquitetônica com a natureza da vila. Parecia que o turismo do povoado seria sustentável, equilibrado e não predatório, mas na atualidade, já existem estabelecimentos suntuosos, que ofuscam ou descaracterizam o aspecto original de Atins.

 

Há, ainda, um trânsito inconsequente de veículos 4×4 e de quadriciclos pelas ruas estreitas do lugar. Os motoristas parecem não se preocupar com quem utiliza estes serviços de transporte e muito menos com quem se atreve a caminhar na areia fofa e quente das ruas de Atins.

 

Recentemente, um estabelecimento pegou fogo por completo. Não houve vítimas. Algum tempo depois, ocorreu um acidente envolvendo um turista que, dizem, fazia manobras nas dunas pilotando um quadriciclo. A pessoa morreu.

 

Os serviços e os preços praticados parecem ser voltados para o público estrangeiro. O táxi de quadriciclo custa R$ 20 por pessoa para qualquer ponto da vila. O transporte de duas pessoas custa R$ 40. Com a volta, R$ 80. E por aí vai. Talvez seja o traslado mais caro do mundo em se tratando de custo-benefício. E outro fato que confirma a premissa: numa das pousadas que visitei havia avisos e anúncios somente em inglês e francês.

 

A paisagem de Atins continua sendo uma das mais belas do Maranhão e, talvez, do mundo. É, ainda, um ótimo local para passeio e descanso e é um oásis para quem pratica o kite surf, mas é preciso ficar atento e saber se o Poder Público está acompanhando o ordenamento urbano e a indústria crescente do turismo no local. Se há oferta de treinamento para os operadores e para a população, se estão respeitando as leis trabalhistas, se existe saneamento básico e para onde estão sendo destinados os resíduos sólidos gerados ali. Nada disso parece ter importância diante dos pomposos estabelecimentos que rapidamente são edificados ao longo do povoado.

 

Fotos: Eduardo Júlio

 

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