Descoberta gravuras do Maranhão do século XVII  

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Por Cynthia Martins (Antropóloga e professora da UEMA)

 

A imagem desta postagem, certamente, é uma das mais antigas do Maranhão. Parece ser a representação de um indígena. Localizei em um dos quatro volumes da obra intitulada “Kerckelycke Historie Van de Gheheele Werelt” de autoria do padre jesuíta Cornelius Hazart (1617-1690), no setor de obras raras da Mullen Library, na Catholic University of America, em Washington D.C., nos Estados Unidos. Trata-se da primeira edição do livro, do ano de 1667, escrito em holandês (Dutch), edição Michiel Cnobbaert.

 

O título do livro pode ser traduzido como “Kerckelycke: História do Mundo Inteiro”, com descrições dos costumes, cerimônias e religiões de diferentes povos ao redor do mundo.

 

A publicação apresenta a história das explorações de missões mundiais, da Igreja Católica, em localidades descritas como terras de Japonien, China, Braeilien, Mogor, Flórida, Bisnagar, Canadá, Peru, Paraquariano, México e Maragnan.

 

Sabe-se que o livro foi ilustrado com os trabalhos de Hendrik Herregouts, J. de Lof, Justus van Egmont, Jacob Bruynel, Abraham van Diepenbeeck, Gaspar Bouttats e Adriaen Lommelin.  São lindas gravuras das diferentes localidades visitadas, expostas em um livro de grandes dimensões (Format plates, ports, 33cm).

 

A ilustração do indígena maranhense, de autoria de um dos ilustradores participantes da publicação, é acompanhada de um texto sobre o Maranhão cuja tradução do holandês antigo exigiria um maior investimento na pesquisa.

 

A localidade Maragnan (Maranhão) está separada da descrição Brasil.

 

Há duas gravuras na parte referida ao Maranhão, uma delas, reproduzida nessa matéria, apresenta um indígena com o corpo coberto por desenhos, e ao fundo há gravura de casas indígenas, dispostas, em forma circular. Aparecem, também, montanhas que lembram vulcões, o que não faz parte da paisagem maranhense.

 

Gravuras

 

Outras edições disponíveis apresentam uma variação da foto do indígena, com as mesmas marcas corporais, cobertas com uma cor vermelha e com a legenda “Kleedinghe van Maragnan”, que em holandês antigo significa “roupas do Maranhão”.

 

A gravura do indígena, com roupa vermelha, não está presente na primeira edição do livro. Mas aparece em edições posteriores, como a do ano de 1669. Um dos responsáveis pelo setor de obras raras da Mullen Library explicou ser bem comum, em casos de livros com gravuras, as edições subsequentes à primeira, serem pintadas – isso para o livro parecer mais interessante. Inclusive chegou a mostrar várias edições, de outros livros raros em que era possível observar tal prática.

 

Segundo o arqueólogo maranhense Deusdedit Carneiro Leite Filho, essa imagem pode ser observada também no acervo na Biblioteca Nacional de Lisboa, desenhada com bico de pena, em pequeno tamanho, não colorizada, tal como a que aparece na primeira edição do livro, localizado em Washington DC. Uma cópia ampliada da imagem de Lisboa está disponível, no Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão, em São Luís (Brasil).

 

Deusdedit Filho levanta a suspeita de que os desenhos no corpo do indígena sejam tatuagens tupinambás. Outro detalhe que ele identificou é a de que o indígena, provavelmente tupinambá, apresenta aspectos gregos.

 

Neste site mostramos as duas imagens, a primeira, somente com as inscrições, observada a primeira edição do livro, e a segunda, com a colocação vermelha, reproduzidas em edições posteriores.

 

A parte do livro referida ao Brasil se constitui em outra rica fonte de dados e possui uma fotografia de Padre José de Anchieta em plena Mata Atlântica.

 

Pesquisa

 

Os dados e gravuras do Maranhão que estão no livro, em Washington DC, ainda precisam ser estudados com maiores detalhes. A minha leitura referente a descoberta foi bem rápida.

 

Estive na cidade de Washington D.C, nos Estados Unidos, realizando uma pesquisa, na Oliveira Lima Library, vinculada à Catholic University of American. Descobri essa imagem por acaso e esse material não faz parte do foco da minha pesquisa.

 

A minha   pesquisa, de pós-doutorado, realizada no Programa de Pós-Graduação em História da UNIRIO, possui como tema “A etnografia: repensando os limites disciplinares”. A professora Heloisa Maria Bertol Domingues é a orientadora desse trabalho.

 

Portanto, a publicação e a imagem encontrada referentes ao Maranhão, encontradas nos EUA, não fazem parte do foco direto de minha pesquisa. O livro foi apresentado a mim por um dos diretores da biblioteca, quando soube que eu sou do Maranhão. Então, decidi compartilhar a informação.

 

Cynthia Carvalho Martins em Whashington DC

 

 

 

Muller Library

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