Tem cuxá na Praia Grande

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Um dos pratos mais tradicionais da culinária do Maranhão, o Cuxá, pode ser degustado, a preço acessível, no Tapioca e Café, na Rua Djalma Dutra (continuidade do Beco Catarina Nina), na Praia Grande, em São Luís.

 

No geral, o cuxá é feito com vinagreiragergelim, quiabo, camarão seco, farinha de mandioca seca e pimenta-de-cheiro.

 

Ideal para acompanhar o arroz e peixe frito.

 

Veja poesia do escritor Arthur Azevedo para o arroz de cuxá. Foi extraído do livro Atenas Brasileira: A Cultura Maranhense na Civilização Nacional, de Rossini Corrêa. Brasília. Thesaurus, 2001.

 

Como o nosso Manoel Costa

Mandou pelo Macieira

Um molho de vinagreira

Lá de Jacarepaguá,

Num delicado bilhete

Me perguntas, caro amigo,

Se quero, amanhã, contigo,

Comer arroz de cuxá.

 

Que pergunta! pois ignoras

Que sou, por este petisco,

Homem de andar ao lambisco,

Ora aqui, ora acolá?

Pois não sabes tu que, apenas

Eu me apanhei desmamado,

Me atirei como danado

Ao belo arroz de cuxá.

 

Gosto do peru de forno

Gosto de bofes de grelha,

E tenho uma paixão velha

Por torradinhas com chá;

Mas nos pitéus e pitanças

Que custam tanto e mais quanto,

Nunca achei o mesmo encanto

Que achei no arroz de cuxá.

 

Visitei o velho mundo

E, nos restaurantes caros,

Os acepipes mais raros

Comi que nem um paxá;

Mas, quer creias, que não creias,

Nenhum achei mais gostoso,

Mais fino, mais saboroso,

Que o nosso arroz de cuxá.

 

A tua “Mulata Velha”

É com razão orgulhosa

Da moqueca apetitosa,

Do doirado vatapá;

Mas, baiano, tem paciência;

Forçoso é que te executes!

Nada valem

tais quitutes

Ao pé do arroz de cuxá.

Eu tenho muitas saudades

Da minha terra querida…

Onde atravessei a vida

O melhor tempo foi lá.

E os sonhos da adolescência;

Mas… choro com mais frequência

O meu arroz de cuxá.

 

Porque – deixa que t’o diga –

– Esse prato maranhense

Ao Maranhão só pertence

E n’outra parte não há.

Aqui fazem-no bem feito

(Negá-lo não há quem ouse);

mas… falta-lhe {“quelque chose”};

não é o arroz de cuxá.

 

Pois aqui há bom quiabo

E bem bom camarão seco;

Há vinagreira sem peco;

Bom gergelim também há!

E o prato, aqui preparado,

Do nosso mal se aproxima!

Acaso também o clima

Influi no arroz de cuxá?

 

Ora, qual clima! Qual nada!

É o mesmo quitute, creio;

Falta-lhe apenas o meio;

Nos seus domínios não está.

No Maranhão preparado

Naturalmente acontece

Que sendo o mesmo, parece

Ser outro arroz de cuxá.

 

Eu, quando o como, revejo

Entre a cheirosa fumaça,

Passado que outra vez passa,

Com que não contava já;

Portanto, não me perguntas…

Não me perguntes, amigo,

Se eu quero amanhã, contigo,

Comer arroz de cuxá.

 

Pergunta se quero o espaço

O passarinho que adeja;

Pergunta se a flor deseja

O sol que a vida lhe dá;

Pergunta aos lábios se um beijo

Aceitam, quente e sincero;

Mas não perguntas se eu quero

Come arroz de cuxá.

 

Como a criança quer leite,

Joias a dona faceira,

Fitas a velha gaiteira,

E um maridinho a sinhá;

Como o defunto quer a cova,

Quer o macaco pacova,

Eu quero arroz de cuxá.

 

Febricitante, impaciente,

Cá fico as horas contando!

Do bolso de vez em quando

O meu relógio sairá,

E amanhã, às seis em ponto,

Irei, com toda a presteza,

A tua pródiga mesa

Comer arroz de cuxá.

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