Por Ivan Abreu Figueiredo (médico)
Um dia fui jovem e sonhei grandes coisas que poderia fazer como médico.
Um dia fui jovem e experimentei a alegria de ser médico.
Um dia fui jovem e tive muita força para trabalhar e conquistar emprego, casa própria, o que pensava ser estabilidade.
Um dia fui jovem e me imaginei bem-sucedido.
O tempo passou. Os filhos cresceram.
E, afortunadamente, a alegria de ser médico, à qual logo se juntou a de ser professor, foi ganhando uma cara mais simples. Mais modesta. Mais cheia de suor e calor de estrada.
Fascínio pelo movimento. Por estar a caminho. Uma mudança de foco, lenta e gradual, dos meus sonhos pequeno-burgueses para algo mais solidário, inclusivo.
Os sonhos de grandeza deram lugar a metas mais realistas.
A um olhar mais compreensivo para minhas limitações.
A um senso de gratidão pelas oportunidades que tive e consegui aproveitar.
E que ainda aparecem.
Sim, há uma beleza especial na meia idade. Um senso de misturar o início da despedida com um pico de potencialidades ainda presentes.
Tempo de portas novas que se abrem. De alegria no que está por vezes oculto no comum do dia a dia. De prosseguir no aprender a valorizar pessoas e relacionamentos.De aprender a relaxar um pouco mais.
E ganhar senso de humor, muito necessário.
Alegria de continuar a caminho no meu interior tão querido.
Lucidez de tantas lutas necessárias.
Para viver saúde como direito e cidadania.
Rejeitando seu uso perverso como instrumento de dominação, ainda que disfarçada de caridade.
Não me importa mais o que pensei ser grande um dia.
(Fotos de álbum de família)
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